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Osório conta trajetória até chegar ao São Paulo.
Osório conta trajetória até chegar ao São Paulo.

O técnico Juan Carlos Osorio, do São Paulo, ainda está se ambientando ao clube e ao Brasil, mas com um início promissor (duas vitórias em dois jogos), ele já procura um imóvel para instalar a família e uma escola para os dois filhos, de 12 e 15 anos – por enquanto, eles estão na Colômbia, e o treinador está morando no CT. 

Em entrevista conduzida pelo narrador Cléber Machado, para o Esporte Espetacular, Osorio falou sobre sua adaptação, os primeiros dias em São Paulo, e seu início no futebol. Em busca do sonho de ser técnico, já que não conseguiu ter uma sequência como jogador, ele foi estudar nos Estados Unidos. Osorio revelou que trabalhou na construção civil, operando britadeira, e também em restaurantes. Tudo para ajudar a bancar o estudos. 

No bate-papo, o treinador tricolor contou também a origem do seu método de trabalhar com uma caneta azul e outra vermelha nas meias, com as quais passa bilhetinhos aos jogadores durante o jogo – e também faz anotações para guardar e orientar os atletas. 

Osorio fez ainda uma análise sobre Ganso, Rogério Ceni, Luis Fabiano, encheu Souza de elogios ("É um superjogador") e falou sobre suas concepções de futebol. 

Veja a seguir os principais tópicos da entrevista com Juan Carlos Osório. 

juan carlos osorio são paulo (Foto: Sergio Gandolphi/TV Globo)

 

Esporte Espetacular: Língua portuguesa: é mais difícil entender ou falar?
Juan Carlos Osório: Falar, muito mais. Eu entendo quase tudo, mas quando os atletas falam rápido, é muito difícil. 

A cidade de São Paulo assusta?
Não. É extraordinária. Acho que São Paulo, obviamente, é uma cidade como qualquer outra cidade grande no mundo, com problemas de segurança, mas tem algumas partes parecem a Europa e Estados Unidos. 

A família vem quando?
O futebol é baseado em resultados e a pressão aqui no Brasil é enorme. Mas somos otimistas e minha família decidiu se mudar para cá no próximo mês. A ideia é conseguir escola para os meus filhos, tenho dois, de 12 e de 15 anos, e morar perto da escola.

Eu recebi uma mensagem de texto do Ataíde (Gil Guerreiro, diretor de futebol do Tricolor) e me surpreendi. Isso deve ser brincadeira"
Juan Carlos Osorio

 

A pressão sobre o treinador é diferente aqui no Brasil?
Existe pressão em todos os lugares do mundo, mas o nível dessa pressão é maior no Brasil. Porque o futebol é o pão de cada dia aqui, é tudo é voltado para o futebol. Na Colômbia, falamos que tudo gira em torno do futebol, mas não como aqui. Aqui é muito maior. Mas eu gosto, acho que isso faz parte do trabalho. Faço exercícios, corro, para cuidar da saúde mental. Como bem e faço exercício três vezes por semana.

Por que desistiu de ser jogador?  
Por uma razão fundamental: nos anos 80, na Colômbia, eram permitidos oito estrangeiros em cada time; jogavam quatro. Principalmente na minha posição (meio-campista). Havia muitos estrangeiros e eu decidi parar. Tomei a decisão de ir para os Estados Unidos e virar técnico. 

Com quantos anos o senhor foi para os EUA?
Com 23. Trabalhei um ano na construção, com a britadeira, ao lado de portugueses e italianos. Depois, fui para a faculdade com uma bolsa. Jogava, estudava, trabalhava em restaurantes para ajudar a estudar mais. Estudei em New Haven, Connecticut, ciências dos exercícios e rendimento humano, durante quatro anos. Depois fiz uma especialização em Liverpool (Inglaterra), de dois anos e ganhei a licenciatura. Eu comecei como assistente técnico na MLS (liga americana de futebol). Depois veio a proposta do Manchester City (em 2001). 

O senhor foi para lá a convite de Kevin Keegan (ex-jogador e técnico atualmente sem clube)?
Sim. Foi o Keegan, um grande jogador e um grande manager. Com ele aprendi que o mais importante são os jogadores, não o treinador. Fiquei dois anos como preparador físico e mais quatro como auxiliar técnico. 

O Brasil alguma vez esteve em seus planos?
Sempre admirei muito. Colecionava camisetas das equipes. Uma das poucas coisas de que me lembro com meu pai foi a final da Copa de 70, contra a Itália. Muita gente na Colômbia gosta do futebol brasileiro. Mas, historicamente, muitos poucos (estrangeiros) dirigiram times brasileiros. Então, eu não pensava que haveria possibilidade.

Como foi o primeiro contato com o São Paulo?
Eu recebi uma mensagem de texto do Ataíde (Gil Guerreiro, diretor de futebol do Tricolor) e me surpreendi. Isso deve ser brincadeira, pensei. Eu estava concentrado na final (do Campeonato Colombiano) com o Atlético Nacional e respondi: “Se vocês realmente estão interessados, venham à Colômbia para ver como eu sou no campo". Eles chegaram às 7h. Eu os encontrei, fomos no campos, me viram, almoçamos, conheceram minha família, resolvemos e eles voltaram. Foi rápido, rápido. 

Jogador brasileiro é parecido com os da costa colombiana, os da praia, tranquilos, alegres, relaxados, gostam de festas (...). Esse tipo de jogador toma a liberdade, carrega a bola, joga com o coração, com as emoções, gol por gol, ataque por ataque, golpe por golpe. Assim não dá para jogar futebol profissional. No futebol profissional é preciso controlar o jogo."
Juan Carlos Osorio

Qual a avaliação que o senhor faz da seleção brasileira na Copa América?
Acho que o sistema é o reflexo do futebol brasileiro: quatro defensores, dois volantes, três no meio e um no ataque, com jogadores que desequilibram pelos lados. Mas me surpreende que não tenha uma pessoa na área, porque o centroavante é necessário. Creio que no torneio local (Brasileirão) há muitos bons jogadores que poderiam fazer esse papel. Desde que eu estava na Colômbia, dizia que o futebol brasileiro melhorou muito na condição atlética. Souza (volante do São Paulo), por exemplo, é um superjogador, atleta, de corpo largo. 

O senhor concorda que o jogo ficou muito físico e pouco técnico?
Depende. Há muitos jogadores talentosos como Messi, Neymar, William, Cuadrado, Robben, que se impõem pelo talento. Mas há jogos em que eles têm adversários que marcam com rigor. Então é preciso ter talento e ser um bom atleta. O caso mais concreto é o de Cristiano Ronaldo. É mais atlético e tem mais futebol aéreo que  os outros. Então, eu acho que o ideal tem de ser um complemento entre talento e parte atlética.

Nessa ordem?
Primeiro o talento.

Os principais times na Europa têm jogadores de meio-campo que são dinâmicos e não sabemos definir bem se são volantes ou meias. É possível fazer isso aqui no Brasil?
Sim, porque os brasileiros têm o mais importante que é o talento. Têm controle da bola e o passe em dois toques. Muitos jogadores no mundo têm de controlar, ajustar, preparar e passar, são quatro tempos. Aqui, a maioria joga com dois. Mas tem de melhorar a parte atlética.

E a parte tática?
Também. A ideia central disso é que o jogador brasileiro é parecido com os da costa colombiana, os da praia, tranquilos, alegres, relaxados, gostam de festas. Pensam só no amanhã. Não têm urgência. Esse tipo de jogador toma a liberdade, carrega a bola, joga com o coração, com as emoções, gol por gol, ataque por ataque, golpe por golpe. Assim não dá para jogar futebol profissional. No futebol profissional é preciso controlar o jogo. No meu primeiro jogo aqui contra o Santos (ele ficou num camarote no Morumbi), viramos 3 a 2 e continuamos atacando. Não controla! Estamos ganhando, calma, segura o jogo. 

Juan Carlos Osorio São Paulo (Foto: Sergio Gandolphi)

Ouvimos o senhor dizer que gosta de mudar o time, usar o elenco. Aqui no Brasil, jogador que vai para o banco faz cara feia. Como vai lidar com isso?
O rodízio não é um princípio de jogo, mas de vida. Por exemplo: você tem cinco cinegrafistas, mas cada vez que vai fazer uma entrevista especial, leva sempre o mesmo. Os outros quatro vão pensar que você não confia neles. No futebol é igual. Dinheiro, todos eles (jogadores) têm. Chega um momento em que o que eles querem é a glória de vencer, de contribuir, de jogar e sentir parte disso. 

O senhor pediu para o Rogério continuar? 
Sim. E como profissional é exemplar. Tenho de convencê-lo de que, em alguns dias, não tem que treinar. Porque ele sempre quer, quer, quer... Mas é um ser humano muito bom e um profissional extraordinário.
 
Como o senhor tem avaliado o Ganso?
Eu o enfrentei (com o Once Caldas) na Copa Libertadores (de 2011), quando ele jogou com o Neymar, pelo Santos. Já percebi que ele lê muito bem o jogo, é capaz de ir para uma bola sabendo o espaço que está criando, mas preciso convencê-lo de que é preciso ajudar. Acredito que ele vai melhorar, porque se tem talento, pode somar. Ganso tem de ser um jogador de elite.

E o Luis Fabiano?
Esse é especial. É um centroavante com uma qualidade para finalizar muito grande. 

Quem seriam hoje os três melhores jogadores do Mundo para o senhor?
Por tudo o que ganhou e porque eu gosto dos zagueiros que conduzem, que geram uma linha de jogo, que jogam com a bola, eu escolheria o Piqué (Barcelona). Como meio-campista, como eu gosto de jogadores atléticos de ida e volta, eu escolheria o Pogba (Juventus). E para o ataque escolheria o Messi.

E o Neymar?
Excelente jogador. Quando só joga futebol e está com a cabeça só no jogo, é um dos melhores do mundo. Quando tem tantas coisas rodeando um atleta, problemas, fama, dinheiro, é difícil...

Sobre as canetas que usa nos treinos e jogos, presas às meias. O que é anotado em vermelho e em azul?

Vermelho não é o que está errado, é o mais importante. E em azul eu escrevo o resto. Por último, isso eu não criei, quem me ensinou foi meu pai. Meu pai trabalhou em um laboratório farmacêutico, era um homem extraordinário e me ensinou desde muito pequeno: “Tem que escrever, porque é melhor um lápis pequeno do que uma memória larga”.

Juan Carlos Osorio São Paulo (Foto: Sergio Gandolphi)